quinta-feira, 17 de junho de 2010

Conversas com A.: Diário de Bordo 4

Seguimos trabalhando, construindo, dialogando. Uma das formas mais bonitas de diálogo é a inspiração que um pode levar para o outro. O último ensaio ganhou riqueza pelas cenas apresentadas pelos atores. Em cada cena, um novo olhar. Uma nova perspectiva que me fez sentir vontade de inventar sem a intenção de levar estas palavras brincantes para a dramaturgia. Por um momento, apenas brincar...

Para Bia
Atenção! Ritmo! Ação! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Não podemos perder tempo! Não podemos perder tempo! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Umdoistrêsquatro! Agora façam de um a dois minutos de silêncio e ponderem... Só perde tempo quem está perdido.

Para Serginho
O homem cinzento achava tudo muito pesado e carregava caixas e caixas de mal humor. Vivia com a testa franzida, o sorriso esquecido, o rosto caído, a coluna contrariada e os pés adormecidos. Certo dia, o homem cinzento encontrou um outro homem que também carregava caixas. Mas um homem muito diferente, todo colorido, que carregava caixas e caixas de bom humor. O homem colorido vivia com a testa relaxada, o sorriso falante, o rosto cativante e os pés sempre brincantes. O homem cinzento achou o homem colorido muito esquisito. E perguntou: “- Como você consegue ser assim?”. “Eu sou a bagagem de mim mesmo”, respondeu o homem colorido, certo de que suas caixas, um dia, o fariam voar.

Para Claudinha
Eu só acredito que eu existo quando me olho no espelho. Mas sempre que me vejo, nunca sei quem sou. Você sabe quem eu sou? Pra que eu existo? Engraçado esse negócio da gente existir, mesmo sem saber porque.

Para Pedrinho
Quando eu nasci, o sol cantou uma canção tão linda que eu nunca mais esqueci. Era noite e o sol cantava dentro de mim: seja feliz! Seja feliz! Seja feliz! Eu não tinha a menor ideia do que era ser feliz. Mas guardei aquela sensação de alegria. Felicidade é quando o sol canta dentro da gente.

Para Ana Flavia
Hoje eu acordei “desnomada”. Sabe o que é ser “desnomada”? É não saber mais o nome de nada, nem o meu próprio nome eu sei... Acho que eu vou ter que aprender tudo outra vez. Já pensou? Ter que aprender tudo outra vez? Vou contar um segredo, mas ninguém pode saber: às vezes, algumas coisas que eu aprendo não fazem o menor sentido. Você acha que todas as coisas que você aprende fazem sentido? Qual o seu nome? Você é animal, vegetal ou mineral? Ah! Que divertido!

Para Ligia
Ontem eu me transformei em um gato cra cra cra, crítico analítico e político. Não gostei de ser crítico. Depois, me achei muito analítico. E justamente por ser tão analítico, desisti de ser político. Resolvi então me transformar em um pato quá quá quá. Engraçado, charmoso e blá blá blá. Mas me achei um tanto falso e um pouco sem graça, perdi o charme, não disse mais nada e quis virar a casaca. Foi então que eu tive uma grande ideia. Eu me transformei em um sapato em dia de festa. Dancei a noite inteira até o amanhecer! Requebrei as cadeiras até o sol nascer. De manhãzinha eu já não tinha mais sola, nem salto. Eu havia me transformado em meu próprio pé. Estou gostando de ser pé. Amanhã eu vou sair andando por aí. Vou experimentar correr... E depois... quem sabe eu possa me transformar em um lindo caminho... Eu quero ser o meu próprio caminho!

Para Paulina
(locução de rádio)
Torre... Cavalo... Torre... Bispo... Cavalo... Rainha... A Rainha corre para o ataque! Dribla um! Dribla dois! Dribla três! Manda cortar a cabeça do lateral direito! Dribla quatro, cinco, seis! Manda cortar a cabeça do goleiro! Dribla sete, oito e passa a bola redondinha para o Rei que... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz... O Rei está dormindo na boca no gol! A Rainha grita com o Rei! O Rei não sabe o que está acontecendo! Ele está com sono! A torcida delira! O juiz apita o final do jogo! A Rainha manda cortar a cabeça da mãe do juiz! A torcida está mais que enlouquecida. Os peões querem tomar o poder! Saem do banco de reservas e partem para o ataque. Eles derrubam o Rei que mal tinha acordado. O Rei cai! A Rainha grita com os peões. Os peões dão as costas para a Rainha! O bispo foge comendo pão com manteiga. A torre se desmancha inteira. O cavalo inventa de ser alado e sai voando aerado. A Rainha está sozinha! Gooooooool dos peões! A Rainha é atirada para dentro do gol! Chuuuuuupa!

Para Samir
Conversa no Malucômio.

- Ele disse que precisa de uma explicação?
- Mas por que ele precisa de uma explicação?
- Você não sabe por que ele precisa de uma explicação?
- Quem pode saber por que ele precisa de uma explicação?
- Ninguém sabe por que ele precisa de uma explicação?
- Ele disse que precisa de uma explicação?
- Mas por que ele precisa de uma explicação?
- Você não sabe por que ele precisa de uma explicação?
- Quem pode saber por que ele precisa de uma explicação?
- Ninguém sabe por que ele precisa de uma explicação?

(continua até que alguém consiga saber quem é ele e porque ele precisa de uma explicação...)

Para Katia
Conversa no Malucômio 2

- Toda vez que eu fizer assim ó... você apita!
- Assim como?
- Assim: xbadjlsjgisjlejlsidlejsidlnelsdindim!
- Ok, pode deixar...
- Então vamos lá. Lá vai: xbadjlsjgisjlejlsidlejsidlnelsdindom!
Pausa.
- Ora! Mas por que você não apitou?
- Porque você não fez como o combinado. Você não fez assim!
- Assim como?
- xbadjlsjgisjlejlsidlejsidlnelsdindim!
- O que foi que eu fiz?
- Você fez: xbadjlsjgisjlejlsidlejsidlnelsdindom!
- E qual é a diferença?
- Em vez de terminar com dindim, você terminou com dindom!
- Mas isso não é importante!
- Isso é muito importante!
- Desimportante!
- Muito importante!
- Você é maluco!
- Você também!
- Tá... Vamos brincar de outra coisa?

Para Anna Dulce:
Lá vai o trem! Lá vai o trem! Lá vai o trem! Lá vai o Zé Ninguém! Zé ninguém! Zé ninguém!
Lá vai o trem! Lá vai o trem! Lá vai o trem! Lá vai o Zé Ninguém! Zé ninguém! Zé ninguém!
Parem o trem! A partir daqui, Zé Ninguém segue viagem como bagagem.

Valeu, pessoal!

Silvia Camossa