quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Mapas Psicogeográficos



La Aglomeration de Paris

Map of Venice_Ralph Rumney

Memoires_Guy Debord

New Babylon_Constant

The Naked City_Guy Debord


Um mapa psicogeográfico mostra uma organização afetiva de determinada experiência vivida na cidade.

Para os situacionistas, “a psicogeografia seria o estudo das leis exatas e dos efeitos precisos do meio geográfico, conscientemente planejado ou não, que agem diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos”.
(Internacional Situacionista – Introdução a uma crítica da geografia urbana)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SAIR PARA TOC(AR) _formas de registros


Fotos das texturas tocadas

Escrita Automática
10min

Por Sandra Ximenez

Aqui na sala está sem vento, ar parado, abafado. Mas no mesmo prédio, lá embaixo, já não. Na rua menos ainda. Há fluxos de ares e ventos, que dão vontade de caminhar.
Agora me vem um torpor. O bairro do Bom Retiro é tão cheio de informações que a gente se esvazia. Tem de tudo, todas as diversas etnias, todo tipo de oferta de produtos, comida. Fui parar no parque, que também é muito. Arte, escultura, natureza, pessoas - desocupados, jogadores com apostas em dinheiro, prostituição, guardas. Materiais mais naturais, tão diverso de estar nas ruas. 
Paro pra pensar, não, volto, tentando um fluxo. Texturas me moveram, hoje, mais pelo olhar, mas sempre usando o toque também. Toque do meu corpo nos materiais, toque do vento no meu corpo. Agora torpor. Parece que estou no calor do Pará ou algo assim. Vento lá fora tem a ver com chuva. Senti apenas algumas gotas.

Eu fiz a proposta da Bia, derivar pelo desejo do tato e pela busca de ar. Elas me pareceram procedimentos que têm mais a ver com a ação corpo e arquitetura do que com deriva, talvez. Ficar demais no sensorial move menos? Fecha a possibilidade de maior comunicação? não… tantos artistas trabalham pelo sensorial e arte é comunicação, não pode ser isso. 

Esse esvaziamento que estou é até bom. Estava com a cabeça em tantas coisas práticas, editais, projetos, urgências, apresentação de alunos. Difícil chegar e trabalhar assim tão livre, achar o sentido e ir nele, nessa pesquisa assim aberta, lenta…

Paro a escrita antes do tempo, grata a ter podido ralentar e ficar no sensorial no meio de um dia tão comum, corrido, paulistano. 


Por Beatriz Cruz

O ar me levou pra rua, andar pela rua e descer o vento me fez descer até onde não vão as mulheres esse era vazio um percurso que por tempos só vi homens e meus ombros fecharam sair para tocar é que a natureza chama todo verde chama em flocos ou em árvores. Chama como nunca ou temperatura formas para ativar a temperatura do corpo quero ficar no quente da pedra de uma cachoeira urbana enquanto o som e os olhares que ouço e recebo são de dúvida e jogo que você importa com o que você fará na cidade um código estranho que pode ser decodificado à primeira vista quem eu sou importa para poder permanecer ali. Eu rio. Falo. Simpatizo enquanto penso a relação que os faz permanecer ali. Quem são eles? Eu sentei. Eu deitei. Eu criei uma situação. O campo daqueles quatro corpos está aberto. Não está fazendo se por alguns segundos, minutos que permaneço. Sigo em frente atravesso, vejo encosto, repouso. Objetos redondos para esperar. Poste, entre postes, onde tem um cinto. Quem colocou o cinto ali? Tiro ou não tiro. Porque tirar seria demais para o momentos. Objetos cilíndricos me acomodam. Corrimões da rua. Um buraco quase morro. Um gato parado nos sapatos. Quem é ele para poder permanecer ali? Branco, outro branco para ativar a minha perna. Tive vontade de assistir e me deixar deitar. Quem eu sou para poder permanecer ali? A bochecha na pedra alivia alguma coisa. De longe, do azulejo alguém olha. Será que me vê? Vê a mim pra perguntar quem é você pra permanecer ali? 
Um bloco ovalado azul

Um abraço
Um soslaio
Vento desce ou sobre morro?
Por que o vento me leva onde ninguém vai?
Por que não deixe o vento te levar? Vento de chuva enquanto na TV a chuva alaga. Onde está a chuva Tenho toda a tentativa de escrever. Vento é o ar se mostrando o ar que se mostra me mostra que tenho pele mostra que está resente pela rpoua quem é ele para poder permanecer ali? Sinto as linhas de força.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

SAIR PARA TOC(AR) - (pequena narrativa errante)


SAIR PARA TOC(AR)
03/11/2014
Bom Retiro
Oficina Cultural Oswald de Andrade













Prática de deriva: estímulos para perder-se



Toque sua pele antes de começar a andar. Sentado, ocupe-se do seu pé. Deitado, deixe o chão ocupar-se da frente, dos lados e das costas do seu corpo. Coloque uma música, dance essa música enquanto levanta. 

Ande em direção àquilo que você quer tocar. Quando cansar, siga o ar que você quer respirar.




#1
Em cada encruzilhada, definir que caminho tomar a partir daquilo que você quer tocar: texturas, mobiliário, objetos e etc. Encoste-se, sente-se, deite-se, esfregue-se. 


#2
Sempre que tiver que optar por um caminho, escolha aquele em que o ar pareça mais agradável.
_Sair para tocar

Natureza que chama. Disfarço.  Escolho formas pra ativar a temperatura, pra ficar no quente de uma pedra da cachoeira. Quem é você para poder permanecer aqui?

_Campo aberto entre 4 pessoas e um chão de granito.

Deitada na pedra, estico o braço. Acomodo me, incomoda.
Que situação! Eu rio, ele fala, ele pergunta, ele conta, o outro ri, ele tira sarro, o outro tira sarro, ele ri, ele grita, ele volta pra fazer o que fazia antes. Simpatizo. Quem são vocês para permanecer aqui?

_Entre cilíndricos e prateados 


Objetos redondos para esperar. Vejo encosto repouso de um lado e de outro. Objetos cilíndricos me acomodam. Então postei. Entre um poste e outro, tem um corpo. No poste tem um cinto. De quem é a cintura que permanece ali?

_pelos brancos

Pelo vidro, um gato parado nos sapatos da vitrine. Pela minha batata, um canteiro para ativar a minha perna.
Quem é o gato para poder permanecer ali? Quem sou eu para fazer o mesmo?

_as mulheres ventaram dali

O ar me levou pra rua, me fez andar pelo meio, me fez correr, me fez ver que descia, me levou pro vazio, ermo em baixo, vale, beco. Me fez fechar os ombros, encolher me, polícia. 7 quarteirões sem passar outra mulher.

_contração

Por que o vento me levou onde ninguém vai? Porque é vento de chuva que não vem.


_144

1 homem de cabelo branco sai do bar dos azulejos brancos
4 casas entre a gente
4 olhos se cruzam
1 muro sorvete de flocos derretido
4 texturas
4 extremidades
Uma bochecha
Dois pés + duas mãos
Dois gatos brancos + dois malhados
Quatro tentativas
Bochecha na pedra alivia alguma coisa.
Quem é você pra me olhar assim?
Olha, olha mesmo.
Olho no olho alivia alguma coisa.

_fim do caminho

Diga a verdade, voce está brincando.



*Texto criado a partir de escrita automática




DERIVA: errar é urbano

DERIVA


“Modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica de passagem rápida por ambiências variadas. Diz-se também, mais particularmente, para designar a duração de um exerceicio contínuo dessa experiência".

Definições, Internacional Situacionista
IS n.1, junho 1958

“Um tipo específico de errância urbana, uma apropriação do espaço urbano pelo vivenciador através da ação do andar sem rumo”.
Elogio aos Errantes, 
Paola Berenstein Jacques  



O Coletivo Teatro Dodecafônico utiliza a prática da deriva como uma tática de reconhecimento e apreensão do espaço urbano e para estruturar suas interferências nesse contexto. Partimos da noção de deriva formulada pelos situacionistas, em especial, por Guy Debord, e há muito tempo, praticada por outros tantos estudiosos e artistas, entre eles Charles Baudelaire, Walter Benjamin, Flavio de Carvalho, Hélio Oiticica e mais recentemente o grupo italiano Stalkers.



“O conceito de deriva está indissoluvelmente ligado ao reconhecimento de efeitos de natureza psicogeográfica e à afirmação de um comportamento lúdico-construtivo, o que o torna absolutamente oposto às tradicionais noções de viagem e de passeio. Uma ou várias pessoas que se dediquem à deriva estão rejeitando, por um período mais ou menos longo, os motivos de se deslocar e agir que costumam ter com os amigos, no trabalho e no lazer, para entregar-se às solicitações do terreno e das pessoas que nele venham a encontrar”.



Teoria da Deriva, Guy Debord
(Texto presente no livro Apologia da Deriva, de Paola Berestein Jacques)

“Em sua unidade, a deriva contém ao mesmo tempo esse deixar-se levar e sua contradição necessária: o domínio das variações psicogeográficas exercido por meio do conhecimento e do cálculo de suas possibilidades”  
Idem

Inicia-se aqui uma série de compartilhamentos do processo de pesquisa e aprofundamento artístico que busca investigar dispositivos e procedimentos para a criação de uma encenação em deriva, transformando a cidade num espaço de jogo. Surge do interesse em relacionar a experiência urbana, o teatro performativo, o corpo e o ato de andar como suportes da investigação.

A prática da deriva surge para conectar todos estes desejos de investigação. 
Organizaremos aqui as experiências vividas desde março de 2014. O compartilhamento desse processo faz parte da bolsa MERGULHO ARTÍSTICO, da Oficina Cultural Oswald de Andrade, concedida a Beatriz Cruz.