Fotos das texturas tocadas
Escrita Automática
10min
Por Sandra Ximenez
Aqui na sala está sem vento, ar parado, abafado. Mas no
mesmo prédio, lá embaixo, já não. Na rua menos ainda. Há fluxos de ares e
ventos, que dão vontade de caminhar.
Agora me vem um torpor. O bairro do Bom Retiro é tão cheio
de informações que a gente se esvazia. Tem de tudo, todas as diversas etnias,
todo tipo de oferta de produtos, comida. Fui parar no parque, que também é
muito. Arte, escultura, natureza, pessoas - desocupados, jogadores com apostas
em dinheiro, prostituição, guardas. Materiais mais naturais, tão diverso de
estar nas ruas.
…
Paro pra pensar, não, volto, tentando um fluxo. Texturas me
moveram, hoje, mais pelo olhar, mas sempre usando o toque também. Toque do meu
corpo nos materiais, toque do vento no meu corpo. Agora torpor. Parece que
estou no calor do Pará ou algo assim. Vento lá fora tem a ver com chuva. Senti
apenas algumas gotas.
Eu fiz a proposta da Bia, derivar pelo desejo do tato e pela
busca de ar. Elas me pareceram procedimentos que têm mais a ver com a ação
corpo e arquitetura do que com deriva, talvez. Ficar demais no sensorial move
menos? Fecha a possibilidade de maior comunicação? não… tantos artistas
trabalham pelo sensorial e arte é comunicação, não pode ser isso.
Esse esvaziamento que estou é até bom. Estava com a cabeça
em tantas coisas práticas, editais, projetos, urgências, apresentação de
alunos. Difícil chegar e trabalhar assim tão livre, achar o sentido e ir nele,
nessa pesquisa assim aberta, lenta…
Paro a escrita antes do tempo, grata a ter podido ralentar e
ficar no sensorial no meio de um dia tão comum, corrido, paulistano.
Por Beatriz Cruz
O ar me levou pra rua, andar pela rua e descer o vento me
fez descer até onde não vão as mulheres esse era vazio um percurso que por
tempos só vi homens e meus ombros fecharam sair para tocar é que a natureza
chama todo verde chama em flocos ou em árvores. Chama como nunca ou temperatura
formas para ativar a temperatura do corpo quero ficar no quente da pedra de uma
cachoeira urbana enquanto o som e os olhares que ouço e recebo são de dúvida e
jogo que você importa com o que você fará na cidade um código estranho que pode
ser decodificado à primeira vista quem eu sou importa para poder permanecer ali.
Eu rio. Falo. Simpatizo enquanto penso a relação que os faz permanecer ali.
Quem são eles? Eu sentei. Eu deitei. Eu criei uma situação. O campo daqueles
quatro corpos está aberto. Não está fazendo se por alguns segundos, minutos que
permaneço. Sigo em frente atravesso, vejo encosto, repouso. Objetos redondos
para esperar. Poste, entre postes, onde tem um cinto. Quem colocou o cinto ali?
Tiro ou não tiro. Porque tirar seria demais para o momentos. Objetos
cilíndricos me acomodam. Corrimões da rua. Um buraco quase morro. Um gato
parado nos sapatos. Quem é ele para poder permanecer ali? Branco, outro branco
para ativar a minha perna. Tive vontade de assistir e me deixar deitar. Quem eu
sou para poder permanecer ali? A bochecha na pedra alivia alguma coisa. De longe,
do azulejo alguém olha. Será que me vê? Vê a mim pra perguntar quem é você pra
permanecer ali?
Um bloco ovalado azul
Um abraço
Um soslaio
Vento desce ou sobre morro?
Por que o vento me leva onde ninguém vai?
Por que não deixe o vento te levar? Vento de chuva enquanto
na TV a chuva alaga. Onde está a chuva Tenho toda a tentativa de escrever.
Vento é o ar se mostrando o ar que se mostra me mostra que tenho pele mostra
que está resente pela rpoua quem é ele para poder permanecer ali? Sinto as
linhas de força.